NÃO LEVANTARÁS FALSO TESTEMUNHO CONTRA TEU SEMELHANTE!


Se assaltares um de teus semelhantes e lhe bateres de modo a causar-lhe ferimentos e quiçá ainda o roubares, sabes perfeitamente que lhe causaste prejuízos e que serás passível de punição terrena.

Não te ocorre, porém, que simultaneamente te enredaste também nas malhas de um efeito recíproco, que não está sujeito a qualquer arbitrariedade, mas que se resgata com toda justiça até nas mais ínfimas reações da alma, as quais nem consideras por não possuíres intuição adequada para tal.

E essa Reciprocidade não tem qualquer relação com a punição terrena, mas atua em silêncio de modo inteiramente independente, porém, de forma tão inexorável para o espírito humano, que em toda a Criação não encontrará um lugar sequer capaz de abriga-lo e protege-lo.

Quando ouvis falar de tais atos de agressão e de ferimentos causados à força, vos sentis revoltados. Se as vítimas forem pessoas que vos são caras, ficareis até assustados e horrorizados! Não vos incomodais, porém, quando ouvis aqui e ali uma pessoa ausente ser difamada por terceiros, mediante palavras malévolas habilmente escolhidas ou muitas vezes apenas pelo emprego de gestos expressivos, que deixam entrever mais do que se fossem traduzidos por palavras.

Atentai, porém: uma agressão material é muito mais fácil de ser reparada que um ataque à alma, que sofre através da difamação.

Evitai, pois, todos os salteadores de reputações, idênticos aos assassinos materiais!

Pois são igualmente culpados e às vezes ainda piores! Assim como não têm piedade para com as almas que acossam, tampouco lhes será estendida no além a mão para o auxílio, quando o implorarem! É frio e impiedoso o impulso nefando do seu interior, que os leva a difamar a outros, aos quais muitas vezes nem sequer conhecem; fria e impiedosamente, de maneira centuplicada, serão tratados, naquele local que os aguarda, tão logo sejam obrigados a abandonar seu corpo terreno!

Serão no Além os proscritos e os mais desprezados, mesmo mais do que os assaltantes e os ladrões, pois um traço comum ignóbil e desprezível caracteriza semelhante espécie, desde a simples intrigante às criaturas corruptas que não se pejam de levantar falso testemunho, sob juramento voluntariamente prestado, contra seus próximos, aos quais muitas vezes teriam motivos para serem gratos!

Tratai-os como vermes peçonhentos; outra coisa não merecem.

Por faltar completamente a toda a humanidade o objetivo elevado e comum de alcançar o reino de Deus, não têm os homens assunto quando se reúnem em grupos de dois ou três, criando então o hábito, tão de seu agrado, de falar da vida alheia, prática esta cuja baixeza nem sequer são capazes de compreender, pois perderam inteiramente a noção disso, pela persistência nesse costume.

Deverão no Além continuar as suas “rodinhas” e dedicar ao seu tema predileto, até que o tempo a eles concedido para a última possibilidade de ascensão, que talvez ainda lhes pudesse ter trazido salvação, tenha-se escoado. Serão então arrastados para a decomposição eterna, onde são submetidas à purificação todas as espécies grosseiras e finas da matéria, para serem libertadas de todo o veneno instilado por espíritos humanos, indignos até de conservarem um nome!